domingo, 5 de setembro de 2010

Respondendo a pergunta de Castores e Libelulas, da noite de ontem....

Minha busca ao "não-sei-o-que" me fere, como a mais poderosa das adagas perfurando meu coração... Lentamente, torno meu ser, cada vez mais ermo, decadente de sentimentos decentes.  
Já não mais posso ser, já não mais posso acreditar num outrem, já não mais durmo, assim não posso  sonhar com o amanhã...
- o amanhã existe?
Foto: André Katopodis & Zee Nunes

Já não mais sei, o que é real ou "não-real", nesta desordem de idéias que se fundem aqui dentro de mim!

Se tu, nunca fostes, como podes ter voltado a ser? Eu, já não mais quero ser, o que sempre fui... ou que que tenho me tornado... me fiz, me trasformei, e não consigo dar-me-a identificção á este ser não sido!

Seria esta, a causa de toda minha desordem mental? Por não ter jogado no lixo, e sim perdido, aquilo que já não mais era necessário para mim?

Seres humanos, não evoluídos, ou medíocres como minha carcaça, tendem a não aceitar perder...
Embora seja eu, autora, culpada, e conhecedora consiente de que perdi. assumo! Perdi o "algo que já não mais tinha valor"...Não me lembro o dia, ou onde "o" perdi, não adianta, não importa o quanto me esforce ou tente lembrar-me, onde perdi "o grampo"...  desde então, tenho medo da vida, tenho medo de minha própria respiração!

Presa neste abismo, por mim criado, sempre estarei, pois não consigo encaixar-me  no quebra-cabeça deste mundo morfado... as vezes, acho que poderia ser tantos "eus" desavindos, ao mesmo tempo, que me assusta, ser quem sou. Eu não me aguento, eu só: já me basta!

Foto: André Katopodis & Zee Nunes

"Fico tão assustada quando percebo que durante horas perdi minha formação humana. Não sei se terei uma outra para subistituir a perdida." (Lispector)

Agora, assim como você, caminho como uma barata tonta, sem saber onde ir, perdida em um labirinto ambíguo... já não mais sei que caminho seguir, ou se devo seguir, já não consigo encontrar saida alguma que me faça poder respirar o ar deste mundo; O ar, doí quando entra em mim, ele me fere, ele peverte o pouco que resta dentro de mim.

E deve ter sido, de fato, por pura covardia de me aproximar dos outros mortais, que te criei! 
Te criei para ser minha assombração;
Te criei, querendo acreditar que tu podes ser real; 
Te criei para que tu sejas meus pesadelos; 
- e tu, não passas de uma desordem de meus devaneios falidos.
Te criei para me confundir;
Te criei para me isolar do mundo;
Te criei, pois ser que tu não é possível;
Te criei para me machucar
- e tu, vais mais fundo, trazendo dores insuportáveis.
Te criei, para me perder, e jamais poder encontrar-me.

Foto: André Katopodis & Zee Nunes
Admito meus erros! Assumo: joguei minha alma ancorada ao abismo... e tento pensar, se haveria sequer alguma forma de resgata-la!? Mas nem mesmo, sei se a quero de volta... Não posso ser, sem você, e tu não es real, então não sou!

"Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão." (Lispector)

Acredito que desisti de ser, desisti de viver, desisti de acreditar, logo eu! Que era alguém, digamos assim: tão forte, marcante e sonhadora... Agora, não mais. Sou eu, apenas alguém que odeia a palavra "esperança"; não odeio porém o inseto verde chamado pelo mesmo nome!

E foi, desde que percebi que perdi, o "algo" que já não mais precisava, que te criei, e me atirei ao caos... para pensar que juntos seremos o paraiso, apenas, juntos. O paraíso, é exato o que não quero, porque ele não existe sem você, e você não existe! E aca estou novamente tão perdida, pois só, não vou a lugar algum, pois só não existo, não sou!

Sim, sou eu aos pedaços, vários pedacinhos, posso ver cada um deles: uns voando longe, uns desabando ao lado, uns apodrecendo por dentro... Eles, meus pedaços, foram por mim cortados para te procurar. Me dilacerei em varios pedaços e os joguei ao mundo, em busca de ti! E agora, sou eu, um alguém imcompleto, as vezes vazia, as vezes transbordando, as vezes em metades: me matei para te encontrar.

"Desamparada, eu te entrego tudo - ... 
- Por te falar eu te assustarei e te perderei? ... 
e por me perder eu te perderia." 
(Lispector)

 Pouco me importa, se jamais te encontrar... essa verdade é mentirosa, sou carente, mas tenho medo do mundo. Sei pronunciar bobagens, e fazer pessoas rirem, mas não sei rir! Não sei enfrentar o mundo, é mais fácil, o criar, como uma história inventada, cheia de ilusões, uma mentira ... é sofrido, posso asseverar, mas, acredite em mim, é mais fácil "viver" no irreal, pois não caibo neste mundo. 

Nenhum amor é tão grande para me completar, nenhum! Nem mesmo sei se sou conhecedora deste sentimento: o tal do amor... Tal sentimento dissentido, me causa ânsia de vômitos! Eu quero sentir, o que mais tenho medo: o amor! 

Ao que me é possivel "ver", so poderei ter tal sentimento, quando por fim, ver que tu és real, e puder segurar-te as mãos, ou seja, não sou eu um alguém merecedor de tal sentimento, de tal palavra! Não! Não sou um alguém desamado, e quiçá por ter recebido tanto amor, não sou capaz de senti-lo, ou simplismente da-lo de presente a alguém... assim como uma caixinha de bombons!

Assim te criei para que eu viva, para que tenha um porque, como um enigma. Viver uma não realidade, mas uma mentira minha! E assim, que ao perder o que não mais me era essencial, ganhei o caos, e te criei. Sim! Sou a covardia disfarçada em menina-mulher!

Quando já não vejo como encontrar-me, quando me deixo ser tomada pela desordem, é mais fácil fugir, é mais fácil não querer ver, é mais fácil me enterrar num buraco e viver, assim como vivem as topeiras. Não, ninguém pode me dar, não necessito de luz alguma! A luz me fere as corneas. Melhor mesmo que eu aceite "viver" presa e muda, apenas esperando o impossível: que tu venhas ao meu encontro, mesmo que este seja em sonhos!

Foto: André Katopodis & Zee Nunes
"Eu me pergunto: se eu olhar a escuridão com uma lente, verei mais que a escuridão?" (Lispector)

Eu, diferente de ti, tardo meu despertar para a realidade, não os adio em palavras, sou "vomitadora" de palavras tortas. Sou covarde, invento mundos inesistentes, me calo, e vomito minhas angustias, meu medo de viver, em formas de letras distorcidas e silêncio!

O mundo me assusta! As pessoas reais me machucam, quando eu falo, elas não me entendem, o que sou elas não conseguem ver, ha se soubessem, quão covarde, eu sou. Sim, o maior dos pesadelos, não é nunca te encontrar, e sim encarar o mundo, e assim, criei um outro só pra mim. Não estou certa, nem convencida de que um dia terei coragem de "ligar o botão" e viver o horror do mundo verdadeiro. Tenho que admitir: o mundo tem coração, ele vive, por certo mais do que eu!

*ps: demorei a encontrar algum livro de dona Lispector, mas sabia que, como todos os meus livros são riscados e grifados, encontraria em algum, frases que complementassem meu texto! Ha se eu pudesse trocar pensamentos com dona Clarice, por certo, poderiamos nos entender, ou nos perdermos ainda mais!

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